“Não podia imaginar que o sistema de monitorização que desenvolvi para os pacientes com doença cardíaca crónica viria um dia a desempenhar um papel na luta contra uma pandemia global.”
José Paulo Carvalho, sócio fundador da empresa de telessaúde portuguesa Hope Care, explica como a tecnologia que tem vindo a desenvolver há mais de seis anos, o HCAlert, ajuda agora os hospitais a monitorizarem e a prestarem cuidados remotos aos pacientes vulneráveis no contexto do combate à pandemia.
A ideia para a tecnologia surgiu em 2014 quando, incentivado pelo esforço do Governo português para o desenvolvimento de soluções técnicas que permitissem aos médicos tratar remotamente os seus pacientes, José Paulo Carvalho conheceu o doutor Luís Oliveira do Hospital da Cova da Beira, que serve os municípios da Covilhã, do Fundão, de Belmonte e de Penamacor.
Como o Dr. Luís Oliveira explica: “Começámos a trabalhar com a Hope Care num sistema novo e inovador que nos permitisse monitorizar remotamente a saúde dos pacientes com insuficiência cardíaca crónica, reduzindo assim a necessidade de se deslocarem ao hospital.”
Salvar vidas em casa
Em Portugal, como na maioria dos países desenvolvidos, a insuficiência cardíaca crónica é a causa mais frequente de internamentos hospitalares de pessoas com mais de 65 anos de idade. Verificou-se na última década um aumento superior a um terço nestes internamentos.
O prognóstico dos pacientes é reservado. Existe um risco de morte de 12,5% durante a hospitalização, com grande probabilidade de não serem detetados episódios agudos depois de os pacientes terem alta. O risco de morte no primeiro ano é de 17%.
É aqui que o sistema de monitorização de pacientes HCAlert da Hope Care, com tecnologia Azure, adaptado às exigências dos pacientes do Dr. Luís Oliveira, deu provas de salvar vidas.
Os pacientes utilizam dispositivos simples ligados por Bluetooth para partilharem as medições diárias, como a temperatura, o peso e a pressão arterial. Depois, os dados são enviados por smartphone para o sistema central da Hope Care e armazenados em segurança na cloud.
Em seguida, o hospital é informado se os dados do quadro clínico do paciente ultrapassarem determinados parâmetros, o que permite aos médicos agirem em conformidade. O corpo clínico também consegue detetar mais facilmente os sinais precoces de descompensação e agir para evitar que um paciente seja vítima de um evento agudo ao ajustar a medição do paciente ou ao dar determinados conselhos.
“É um sistema simples e relativamente barato”, acrescenta o Dr. Luís Oliveira.
“Os médicos treinam os pacientes e os seus cuidadores para utilizarem o dispositivo. É muito simples para os pacientes o utilizarem facilmente após uma única sessão”, acrescenta.
“Ajuda o paciente a sentir-se muito ativo no seu próprio tratamento. Constatamos uma maior adesão aos tratamentos médicos prescritos e a um estilo de vida saudável. Também disponibiliza uma ligação constante e um canal de comunicação entre o paciente e o departamento, que por sua vez os ajuda a sentirem-se seguros e mais confortáveis.”
O armazenamento e a gestão dos dados confidenciais deste tipo também exigem certificações específicas para assegurar que os hospitais estão em conformidade com as normas em vigor, que estão agora facilmente acessíveis em qualquer altura através do Centro de Fidedignidade do Azure baseado na cloud.
“A utilização do Azure facilita-nos a conformidade com a regulação de dados local”, explica José Paulo Carvalho. “Os dados dos pacientes são mantidos seguros, o que assegura a nossa conformidade com as normas para o setor da saúde. Além disso, a cloud dá-nos o poder e a flexibilidade de processar grandes volumes de dados a pedido”.
Ao reduzir a necessidade de fazer visitas ao hospital, a poupança anual de custos por paciente é superior a 47.000 EUR. E a mortalidade nos pacientes que experimentaram o sistema diminuiu para 9,5%, uma redução de 45% em relação ao valor esperado de 17%, de acordo com as Diretrizes Europeias.
O HCAlert e a COVID-19
Apesar de ter sido concebido para ajudar nas doenças cardíacas crónicas, o HCAlert também trouxe benefícios imprevistos durante o surto de COVID-19.
A monitorização remota dos pacientes mais velhos com doenças crónicas, que elimina ou reduz a necessidade das visitas ao hospital, permitiu o isolamento de pessoas vulneráveis, sem comprometer a sua saúde.
“Apesar de não termos muitos casos de COVID-19 nos municípios servidos pelo nosso hospital, o isolamento dos pacientes crónicos vulneráveis é crucial”, explica o Dr. Luís Oliveira.
Além disso, José Paulo Carvalho constatou que o HCAlert também podia ser aplicado nos cuidados aos pacientes isolados que tinham contraído COVID-19.
“É preciso medir nos pacientes com COVID-19 os mesmos sinais vitais dos pacientes com doença cardíaca crónica. Acabámos de alterar o algoritmo para implementar parâmetros diferentes para os pacientes de COVID-19”.
A expansão da solução
Tendo em conta a grande migração da profissão médica para as consultas virtuais online, o Hope Care integrou o Microsoft Teams com o sistema de monitorização, o que permite aos médicos e enfermeiros colaborar e, quando é necessário, contactar os pacientes através de uma videochamada segura para prestar mais apoio e orientações.
Já há oito hospitais portugueses a fazer a avaliação dos pacientes com COVID-19 através do Teams, com base nos dados que estão a receber do HCAlert. Se forem detetadas quaisquer anomalias, o hospital poderá contactar proativamente o paciente e debater as suas opções de tratamento, o que o ajuda a poupar tempo que pode ser vital para a saúde do paciente e melhorar a eficácia geral.
Mostra como, numa altura em que muitos prestadores de cuidados de saúde partilham os desafios das restrições orçamentais e do menor número de médicos disponíveis, a tecnologia pode contribuir para a necessidade de cuidados continuados dos pacientes de viverem vidas mais saudáveis e mais felizes. Uma forma rentável de os hospitais prestarem cuidados de saúde de alta qualidade e fazerem uma utilização eficaz dos seus recursos, tudo isto sem expor qualquer pessoa de forma desnecessária.