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Médicos reunidos numa sala de operações

Como os médicos e os doentes europeus estão a utilizar os dados e a IA no combate ao cancro

Sandra Martinho

Sandra Martinho

Education & Citizenship Lead

Tempo de leitura, 5 min.

Duas pessoas perto de uma máquina de TAC

Fabian Bolin tinha apenas 28 anos de idade quando descobriu que tinha leucemia. Sendo um ator promissor, o diagnóstico de cancro fê-lo sentir que subitamente tinha perdido o controlo do seu futuro e que nada o ajudaria a recuperá-lo.

A sua experiência é semelhante à de muitas outras pessoas.

Todos os anos, estima-se que existam 3,7 milhões de novos casos de cancro e 1,9 milhões de mortes devido à doença na Europa. Segundo a Organização Mundial de Saúde, apesar de representar apenas um oitavo da população global total, a Europa suporta um quarto dos casos mundiais de cancro. Na verdade, o cancro é a segunda principal causa de morte na região, a seguir às doenças cardiovasculares.

Embora se encontrem na Europa alguns dos melhores e mais estabelecidos sistemas de saúde do mundo, o cancro continua a ser um adversário gigante. Atualmente, as principais organizações e profissionais de saúde estão a utilizar tecnologias, como a inteligência artificial (IA) para envolver e prestar apoio aos pacientes, capacitar os médicos e acelerar a investigação, colocando-nos assim um passo à frente no tratamento e controlo da doença.

Devolver o poder ao doente

Quando Fabian teve conhecimento do diagnóstico, sentiu-se impotente e começou a partilhar as suas experiências nas redes sociais. A resposta foi tão extraordinária que ajudou a lançar a WarOnCancer (Batalha contra o cancro), uma rede social para doentes de cancro e respetivos familiares.

Um grupo de quatro pessoas com camisolas que dizem #waroncancer

A plataforma original era constituída por 150 membros com uma presença forte na comunidade de blogues, que representavam 40 tipos de cancro, e salientava que a maioria dos doentes de cancro sofre de baixa autoestima e depressão. Com esta informação valiosa, a WarOnCancer está a trabalhar em parceria com seis empresas do setor farmacêutico e do setor mais amplo das ciências da vida para desenvolver e testar uma nova aplicação móvel, que visa tornar‑se numa rede social global para doentes oncológicos.

Com lançamento previsto para 2019, a aplicação irá permitir aos seus utilizadores partilharem os respetivos dados e monitorizarem a forma como o setor utiliza estes dados na investigação. Através do poder do Microsoft Azure, a WarOnCancer pode analisar estes dados para detetar falhas e benefícios sentidos pelos diferentes grupos de doentes, dependendo do local e da forma como são tratados.

“Durante o meu tratamento e interações com os especialistas, fiquei surpreendido ao saber que cerca de metade dos ensaios clínicos de oncologia sofrem atrasos, porque é difícil encontrar doentes que cumpram os critérios certos para aquele ensaio clínico em particular”, afirmou Fabian. “Apesar da vasta maioria dos doentes estar disposta a partilhar os seus dados para estudos clínicos, muitos não sabem sequer que estão a decorrer estudos clínicos, ou não são devidamente informados sobre como os seus dados serão utilizados. Esta desconexão pode fazer literalmente a diferença entre encontrar um tratamento curativo ou não.”

“O objetivo a longo prazo é criar um serviço de “correspondência” entre ensaios clínicos e doentes, o que deverá aumentar o número de ensaios clínicos com sucesso, liderar o processo farmacêutico de I&D, personalizar programas de tratamento e medicação em função das necessidades de um doente com cancro e, em última instância, salvar vidas”, afirma Sebastian Hermelin, cofundador e responsável pelas parcerias da WarOnCancer com o setor.

Ajudar os médicos a conseguir fazer uma deteção precoce e aumentar a precisão e a exatidão

As vantagens da deteção precoce do cancro são óbvias. Não só resultam numa taxa de sobrevivência mais elevada, como ajudam a minimizar os efeitos secundários do tratamento. Embora o processo varie de país para país, o rastreio padrão do cancro da mama ocorre normalmente a cada dois anos e envolve a realização de uma mamografia por mulheres numa determinada faixa etária.

No entanto, a eficácia da mamografia diminui dramaticamente ao examinar mamas “densas” com uma percentagem mais elevada de tecido fibroglandular. Para resolver este desafio, o Istituto Oncologico Veneto (IOV) está a usar uma nova ferramenta de avaliação da densidade da mama da Volpara, que tem potencial para ajudar milhões de pessoas. A solução baseada na cloud vai além dos limites da mamografia tradicional e avalia as imagens do tecido mamário de uma paciente, concentrando-se na densidade do mesmo.

Uma dashboard com informação detalhada sobre uma mamagrafia

“Uma vez que o tecido mamário denso e as lesões aparecem ambos a branco nas radiografias, é difícil detetar cancro em mulheres com mamas densas. Além disso, está comprovado que as mulheres com mamas densas apresentam um risco mais elevado de desenvolver cancro de mama comparativamente às mulheres com baixa densidade mamária”, afirma Gisella Gennaro, Física Médica do Istituto Oncologico Veneto. “Mas agora, através da análise avançada de imagens, podemos avaliar, de forma automática e objetiva, a densidade mamária da mulher, utilizá‑la para estimar o respetivo risco de desenvolver cancro de mama e fornecer‑lhe protocolos de imagem personalizados, como a utilização de ecografias no caso da densidade mamária prejudicar a deteção do cancro.”

“Sem a computação avançada de imagens, seria impossível obter uma análise tão rápida e exata. Ao longo dos próximos cinco anos, planeamos examinar mais de 10 000 mulheres, assistir a um aumento nas taxas de deteção de cancro, diminuir os cancros de intervalo e os custos sustentáveis do rastreio. É verdadeiramente um passo em frente no sentido de alcançar uma medicina de precisão”, afirma Francesca Caumo, Diretora do Departamento de Radiologia Mamária do Istituto Oncologico Veneto.

Já em Estocolmo, Fabian e a sua equipa mostram-se incansáveis na sua missão de melhorar as vidas das pessoas afetadas pelo cancro. Já se passaram quase quatro anos desde o seu diagnóstico e o seu percurso até à data tem incluído uma dose considerável de coragem. Juntamente com um tratamento de excelência e o apoio da família, os dados também demostraram dar uma ajuda que nem sempre é percebida.

Seja pelos investigadores, os médicos ou os próprios doentes – juntamente com a computação em cloud e a IA – a luta da humanidade contra o cancro nunca foi tão intensa como agora.

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